Sempre que o tema da educação financeira de crianças e adolescentes é abordada, é imediata a associação do tema com a prosperidade e o empreendedorismo infantis. No entanto, abordá-la apenas por esse ponto de vista é um reducionismo.

Neste artigo, separamos alguns tópicos relacionados que mostram como essa discussão pode ir além, de modo que se educar nas finanças não seja apenas sinônimo de ganhar dinheiro, mas de entender o próprio papel da criança no mundo.

Esses temas foram escolhidos e elaborados segundo a metodologia OPEE de Leo Fraiman, importante educador e psicoterapeuta. Leia até o fim e tenha uma visão mais abrangente sobre o assunto.

O que significa a mesada

Por que os pais dividem uma pequena parte do seu dinheiro com os filhos em vez de simplesmente comprar o que eles precisam? Se você não sabe responder a essa pergunta, está desperdiçando uma oportunidade de educar seu filho.

As mesadas podem ter como finalidade ensinar às crianças desde bem pequenas a lidar com frustrações, ansiedade e a saber esperar para realizar objetivos maiores. Ainda que o valor dividido seja bem pouco, ele pode ser usado de um modo simbólico.

Em famílias com pouca renda, por exemplo, o dinheiro dado aos filhos é fruto de muito trabalho, e é imprescindível que eles saibam como utilizá-lo da melhor maneira. Nas famílias mais abastadas, muitas vezes, a relação entre trabalho e dinheiro não fica clara, principalmente, quando as crianças recebem tudo na mão.

As compras com os pais

O mesmo vale para aqueles momentos em que o passeio com os pais necessariamente se torna um momento de recompensar ou presentear os pequenos, seja com comida, seja com roupas ou brinquedos.

É preciso que as crianças entendam, desde cedo, que consumir esses itens não é um direito, mas, nas palavras de Leo Fraiman, um privilégio. Segundo o educador, o direito é de estar vivo, ter escola, amor e segurança.

Todo o ciclo das compras domésticas pode ser compartilhado com os filhos, que precisam ter contato com questões como economia, pechinchar e o valor do dinheiro de forma geral.

O que consumimos e o que somos

O consumo consciente é que norteia a diferenciação de o que temos e o que somos. Se essa diferença fica estabelecida desde cedo, o aprendizado de conceitos como a sustentabilidade, a cultura do reaproveitamento, que acaba com o desperdício e a educação financeira como um todo ficam assegurados.

Além disso, lidar com a incapacidade de comprar algo não é motivo de trauma para as crianças. A escassez pode ser muito benéfica, principalmente quando ela é a porta de entrada para a criatividade.

Segundo o sociólogo italiano Domenico De Masi, o ócio criativo nasce quando não temos o controle do que vamos fazer com o nosso tempo livre.

Ou seja, videogames, filmes, televisão e brinquedos caros não precisam ocupar a mente das crianças o tempo todo. Dando tudo o que os pequenos precisam, você pode estar alimentando o sentimento narcisista deles.

Os riscos da avareza

Por outro lado, é necessário, também, evitar os riscos da avareza. Se o trabalho de pais e mães gera renda suficiente para dar algum conforto às crianças e adolescentes, esse conforto não deve ser negligenciado.

Na verdade, o difícil da educação financeira é conseguir navegar entre esses extremos — o da avareza e do consumismo — sem se perder no caminho. Como tudo o mais na educação, é uma questão de ser parcimonioso.

Ou seja, entender que nossas escolhas afetam quem somos, e que é preciso ter uma visão maior das consequências delas, inclusive transmitindo a consciência dessas consequências aos nossos filhos.

Assim, a educação financeira de crianças e adolescentes deixa de ser uma questão apenas de prosperidade ou não prosperidade. Ela passa a integrar também valores mais altos e partilhados por todos: sustentabilidade, paciência, planejamento e a própria partilha.

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